quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O VENENO DO QUANTA

Irreverência

Quanta Ladeira destila seu veneno em prévia disputada no Recife

Publicado em 10.02.2010, às 22h48

Luís Fernando Moura Do Caderno C
Lula Queiroga (foto) comanda a farra que tem Chico César e Fafá de Belém entre os letristas que satirizarão tudo e todos
Lula Queiroga (foto) comanda a farra que tem Chico César e Fafá de Belém entre os letristas que satirizarão tudo e todos
Heudes Régis/ JC Imagem

Em duas horas e trinta e seis minutos, cinco mil ingressos para a prévia do Quanta Ladeira evaporaram: todo o volume disponível para a venda antecipada. Lula Queiroga, frontman da festa, revela o susto ao JC. “Estamos passando por uma angústia geral, isso se tornou uma loucura. Virou um negócio que ninguém esperava”, diz. Para quem ainda quiser tentar um passaporte, resta chegar antes das 20h desta quinta-feira (11) no Sítio Zé Donino, no Poço da Panela. Neste horário, os portões se abrem para pouco mais de mil felizardos, em esquema pagou-entrou, na boca do caixa. Depois disso, só a reprise aberta ao público, durante o Festival RecBeat, às 17h do próximo domingo.

Enquanto a fila anda (deve deixar tristonhos do lado de fora), o DJ 440 fez test drive das picapes. Dá a largada às 21h. Seu set colorido – na prévia do Guaiamum Treloso, foi de Nação Zumbi a Beyoncé – é seguido pela batucada da Escola de Samba Preto Velho, que faz festejo das 22h até cerca de meia-noite. Então vamos ao que interessa.
Fafá de Belém, Junio Barreto, Chico César, Luiza Possi, Zé Renato, Moska e Júnior Black são alguns dos nomes citados por Lula, entre certos ou mais-que-prováveis para dar pinta no disparate anual. Aqui cada convidado faz fila para lançar paródias ácidas sobre tudo e qualquer coisa mais deste mundo. Isso sem contar o miúdo da organização, que tem gente como Lula, Nena Queiroga e Zé da Flauta, confirmadíssimos, claro, e cheios de veneno entre os dentes. “Não pegamos leve com ninguém”, diz Lula.

Critérios para participar são desprendimento, pois o bloco é pausa na etiqueta profissional da boa música, e imprevisibilidade, já que ninguém tem visita 100% confirmada, mas (quase) qualquer um tem lá sua chance de dar a graça piadista. “Nem falei com Arnaldo Antunes, mas as pessoas aparecem. Você acha que a gente convidou Pitty no ano passado? Ou Nelson Motta? Nelson saiu dizendo ‘este aqui é o melhor bloco do Brasil’. Ah, ninguém cai mais nessa”, ironiza Lula.

Tem quem faça que nem Caetano, todo atrasado. Ligou já no dia do encontro: “Posso ir?”, perguntou no último Carnaval. Resposta é sempre sim. “Desta vez, Fafá de Belém disse que vinha de qualquer jeito. Ficou horas lá no hotel fazendo paródia. Chico César questionou: ‘queria saber se vocês vão me receber’”, diz o músico, desdenhoso da parcimônia. “Chico tem o espírito da coisa. É que nem Moska, que é um cara espirituosíssimo. A gente vai jogando e as pessoas vão improvisando. Tá todo mundo assumindo um risco ao participar”, continua.

Tudo começa em clima de botecão, afirma Lula. “Parece quem ninguém tá a fim de nada”, diz. “Então vamos fazendo letras em conjunto. Lenine às vezes participa por telefone, a gente vai trocando ideias”, continua. “O bom do Quanta Ladeira é que a gente tá na média comum, tá na mediocridade. Fala de uma forma que o leigo vê, e ele vê tudo embaçado”, diz.

“Qual o tema deste ano?”, faz pergunta retórica. “Não tem tema nenhum, tem todos os temas. Zé Mayer, Dilma, Serra, Arruda. O Quanta Ladeira é um bloco sem linha de raciocínio e com esquizofrenia de critérios”, afirma. Não adianta a insistência, Lula guarda as novas letras para a surpresa da hora – nada vaza aqui! – e lamenta: dada a pompa (haja responsabilidade em ser mega-evento), desta vez vão precisar passar som. “Mas informalidade a gente não perde nunca. Até porque não tem luxo nenhum, não tem camarote, quem quiser fica em pé mesmo”, diz.
Esta empresa carnavalesca é do tipo que bomba mesmo sem um tostão revertido em publicidade, tudo via boca boca de brodagens e furo de blogueiros. “Digitei ‘ingressos Quanta Ladeira’ no Google e saíram 58 mil resultados”, conta Lula com espanto risonho. “O negócio se tornou enorme. Tanto que a história de que vamos acabar todo ano é verdade mesmo, todo ano acaba. A gente pensa em criar outro bloco, com outro nome. Mas a pressão é grande”, diz..

Como grife só é grife quando se eterniza, Gadelha, Gil Vicente, Zé Cláudio, Márcio Almeida e até Fafá de Belém (multiartista nata) pintaram camisetas oficiais para distribuir entre os amigos durante a prévia. “Não tem outro bloco no Brasil que faça sátiras como essas, com sexo, drogas e corrupção”, diz Lula. Cede à observação eufórica de Nelson, o crítico folião.

Serviço

Quanta Ladeira ? Quinta (11), a partir das 21h, no Sítio Zé Donino (Poço da Panela). Ingressos: R$ 20 e R$ 30 (com camisa). Abertura dos portões e venda de ingressos: 20h.

Nenhum comentário:

Postar um comentário